FY Visita: Pina Ateliê

FY Visita: Pina Ateliê

2023-02-07

 

Cristina Kim é o nome que está por trás do Pina Ateliê, localizado em Pinheiros, São Paulo. Desde a infância, sempre se interessou por desenhar, modelar e fazer crochê. Sua paixão por atividades manuais a levou ao curso de arquitetura. Formada na FAU, ela trabalhou em diversos escritórios.

Porém, sua vocação para o artesanal originou o Pina Ateliê, onde são produzidas cerâmicas feitas por mãos, coração e tempo. São pratos, tigelas e copos para uso cotidiano, casa ou restaurante. As peças são autorais, inspiradas na cidade de São Paulo e sua arquitetura, na geometria, nos alimentos e rituais a mesa.

 

Fernanda Yamamoto: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória até abrir seu ateliê de cerâmica.

Cristina: Eu gostava de trabalhar com arquitetura, mas sentia falta de acompanhar o processo por inteiro, do projeto à obra e, na maioria dos escritórios, isso não era possível. Não me via atrás de um computador, queria colocar a mão na massa.

Certo dia, ao folhear uma revista de decoração, vi uma peça de cerâmica que me chamou a atenção. Quis descobrir como tinha sido feita, por quem, o que me motivou a fazer aulas.  A experiência de poder modelar, ver o resultado da peça após a queima e realmente colocar a mão na massa foi o que me encantou.

Após dois anos de estudos da técnica, decidi me aventurar nesse mundo, aluguei um espaço, comprei um forno, comecei a produzir e vender minhas peças em eventos e feiras. Meu hobby virou profissão.

Desde o princípio, optei por trabalhar com cerâmica utilitária, peças com funcionalidade, o que tem muito a ver com minha formação em arquitetura.



Fernanda Yamamoto: E como tem sido desde então? Quais as principais características do seu trabalho?

Cristina: O trabalho depende totalmente de mim, tenho que estar aqui, a produção está literalmente nas minhas mãos e exige um tempo próprio. Produzimos de forma sustentável, sob demanda, aquilo que o cliente está buscando. Gosto de enfatizar que não é fácil. Somos uma equipe bem enxuta, na maioria das vezes, só eu e minha assistente.

Além dos clientes que buscam o ateliê atrás de louças para suas casas, também atendemos restaurantes. Os chefs nos procuram para criar peças únicas que combinam com o estilo de cozinha deles.  Adoro a possibilidade de unir gastronomia e arquitetura, design e funcionalidade, ver as comidas empratadas em louças bonitas, de descobrir sobre as diversas culturas por meio da gastronomia.

Fernanda Yamamoto: Pode nos explicar o processo de produção das cerâmicas?

Cristina: Existem dois processos de produção: totalmente manual e no torno. Mas vou falar sobre o torno, mais usado aqui e em outros ateliês:

Primeiro amassamos a quantidade de argila necessária para a peça que queremos produzir, com intuito de torná-la homogênea e tirar as bolhas de ar.

Em seguida, centralizamos a argila no torno. Curioso é que o torno revela como você está naquele dia. Se não está bem, não sai nada! A gente tem que estar muito tranquila para que a peça saia certinha. É importante a peça estar centralizada para que a espessura da parede e do fundo fique legal.  Esse processo leva no máximo 15 minutos, mas o tempo da cerâmica não é só o tempo de produzir no torno. Ela tem que ficar secando até o outro dia.

"O torno mostra como

você está naquele dia"

 

Na sequência, damos acabamento no fundo e a colocamos na prateleira protegida do sol e do vento, para que possa secar uniformemente. O clima da cidade também interfere muito, calor, frio, chuva.  Temos todo um cuidado com a peça para ela sobreviver. A cerâmica exige muito um trabalho de presença. Você tem que cuidar dela.

Depois que a peça seca, em torno de 10 dias, ela é queimada para virar cerâmica. Quando está totalmente seca falamos que está em ponto de osso. Muito frágil, requer todo um cuidado e tempo. Delicadeza e firmeza na mão.

O próximo passo é levar ao forno para queima a 1 mil graus, por cerca de 7 horas. Ela sai em ponto de biscoito, super porosa. Ainda não dá para utilizar como utilitário, que é o foco do ateliê.

Depois que esfria, ela é tirada dali e esmaltada. Aqui a gente banha num esmalte, que é uma mistura de minerais com água. Cada esmalte tem uma formulação diferente, um mineral diferente. Cada cor vem de um mineral – cobalto ferro cobre estanho titânio -, tudo feito por nós. Não usamos esmaltes prontos para poder fazer nossas próprias cores. Após essa etapa, levamos a peça para queima de “alta” – o que dita a temperatura é a faixa de queima da argila que estamos usando.  Se queimar muito abaixo, pode ficar poroso, o esmalte pode não fundir. Se queimar muito acima, a peça pode entortar, o esmalte e a argila podem borbulhar. Você tem que respeitar a temperatura de queima para garantir uma peça utilitária que não tenha problema de mofo, por exemplo.

Essa queima leva em torno de 10 horas e esperamos cerca de 3 dias até o forno esfriar. Por fim, a peça está pronta para ser usada.

Fernanda Yamamoto: Como conheceu a marca?

Cristina: Sempre acompanhei o trabalho da Fernanda. Um dia decidi ir até a loja, precisava de roupa para o casamento de um amigo. Um tempo depois voltei para comprar outro vestido, um plissado vermelho que chamou bastante atenção no casamento da minha irmã.

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