FY VISITA: SERTÃO ARQUITETOS
2022-08-05
O casal de arquitetos Maria Raquel Rangel e Julio de Luca criou o Sertão Arquitetos em 2019, buscando oferecer uma arquitetura que supera as escalas e que está atrelada a pessoas, de forma a atender e entender todas as demandas. A motivação deles é percorrer o território da prática, urbanismo, design, pesquisa, escrita e escuta de formar a entender que a arquitetura atrelada a multidisciplinaridade se torna e se faz mais completa. O Sertão Arquitetos enxerga a arquitetura como uma forma de concretizar a essência e a poesia de se construir o afeto.
Em paralelo, a dupla também está à frente do projeto de decoração de interiores chamado O Cerrado, onde colocam à venda móveis e objetos garimpados por eles. “Gostamos do que tem história, do que está presente no mundo. Não há tempo que dê conta do fim. Tudo o que temos e produzimos fica, pois não se joga fora, não existe fora, mas se transforma”.
Fernanda Yamamoto: Como foi o primeiro contato de vocês com a marca?
Raquel Rangel: Em 2012, eu trabalhava num escritório de arquitetura na Vila Madalena e passava todos os dias em frente à loja FY. Ficava namorando o espaço e as coleções, mas ainda não tinha como investir numa peça da marca, pois recebia salário de estagiária. Comprei minha primeira roupa Fernanda Yamamoto num site de roupas usadas, porque queira muito ter uma peça dela.
Eu sempre acompanhei a trajetória da marca - os desfiles, exposições etc. –, porque todos os temas que envolvem o universo FY me interessam muito, as investigações com tecidos, os trabalhos com comunidades.
Em 2018, escolhi me casar de Fernanda Yamamoto. Entrei na loja, provei alguns vestidos e escolhi um modelo cor de rosa, lindo! Foi assim meu primeiro contato com a equipe.
Julio de Luca: Nessa ocasião, quando fomos pesquisar o site da Fernanda, foi muito curioso porque parecia que estávamos lendo sobre o Sertão. Os valores, a transparência, a sustentabilidade, o cuidado com os fornecedores em todas as escalas. Tudo em que a gente acredita estava ali.
FY: O que mais chama a atenção de vocês no trabalho da marca?
RR: Eu sempre tive dificuldade de encontrar roupas com as quais eu me identificasse, que me representasse com todas as minhas singularidades. A maioria das marcas oferecem uma roupa padronizada, para uma mulher padrão. Na Fernanda Yamamoto, posso claramente me mostrar para o mundo com as minhas diferenças, minhas imperfeições. Me sinto revelada pela pelas roupas da Fernanda. Quando visto uma peça dela, eu penso: é assim que eu quero me mostrar, assim que eu quero que me vejam.
JL: Fui influenciado pela Raquel, ela despertou em mim um olhar diferente para o meu próprio vestir. Começamos a entender que a forma como nos vestimos, como nos apresentamos tem influência direta em nosso trabalho, na maneira como somos vistos. Passei a ter um olhar mais cuidadoso para me vestir. Fui me afeiçoando. As roupas de Nando expressam claramente aquilo que quero mostrar. Para essa sessão de fotos, provei três looks. Em um deles, a Raquel olhou para mim e disse: parece que essa roupa foi feita para você, que é sua há tempos.
FY: Quais pontos em comum entre o trabalho de vocês e da Fernanda vocês destacam?
RR: As peças FY são super arquitetônicas, há um cuidado evidente com construção, com cada detalhe. As criações dela são praticamente dobraduras, existe uma preocupação com os vincos, com linhas que se encontram, uma verdadeira construção mesmo. Elas são referências para nossos projetos.
Outro ponto em comum, é o fato de desenvolvermos um trabalho interdisciplinar, de buscarmos referências não só na arquitetura, mas também na literatura, poesia, moda, gastronomia. Ter um olhar para diversas artes influencia aquilo que vamos produzir. Esse repertório vasto é muito precioso e eu vejo isso também na produção da Fernanda Yamamoto. Quando ela vai para Paraíba investigar a renda, quando ela faz uma imersão em uma comunidade rural para transformar aquilo em roupa... É muito bonito. É preciso uma proximidade tão interna, de troca com essas pessoas. É tão precioso porque não é algo que está dado, mas algo que está no ar, precisa ser captado, vivenciado. Quando Fernanda Yamamoto faz essa captação, fala sobre essa existência, a produção dessas mulheres e transforma isso em roupa, é muito potente.
JL: Aquilo que a gente produz é um pouco fora do padrão, diferente do modelo de arquitetura. A roupa da Fernanda também é fora do padrão. Ser fora do padrão representa muito o que queremos fazer, o que produzimos, a forma como enxergamos. Outra similaridade é a investigação criativa dela, o processo criativo muito intenso e muito investigativo. Conseguimos enxergar isso em todas as peças.
Nós também estamos sempre investigando espacialidades. Nosso papel é criar espaços diferentes, de qualidade, que abriguem as pessoas, que possam apontar novas percepções. É bacana ter uma casa com o melhor acabamento? Com certeza. Mas se tirarmos esse acabamento, o que sobra? O importante é criar espaços de qualidade independentemente de o acabamento ser o mais tecnológico ou mais simples.
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